Ela tinha 16 anos quando conheceu aquele rapaz. Conheceu-o de uma maneira não convencional. Não fazia parte de seu círculo de amizade- nem da rua onde morava nem da escola.
Como gostava de ler revistas, aquelas que denominavam foto-novela e estas, geralmente, apresentavam uma seção de correspondência ela resolveu escrever, enviando seus dados pessoais. Não mencionou o nome verdadeiro, mas um pseudônimo. Um nome que parecesse verdadeiro.
Seria uma brincadeira. Uma forma de passar o tempo, se divertir.
Foram muitas as cartas recebidas. Selecionou algumas e passou a responder.
No começo foi novidade, mas depois, passou a ocupar demais seu tempo que precisava dividir entre o colégio, os estudos, as aulas de inglês, o curso de decoração, as vivências em família.
Ficou se correspondendo com uma única pessoa.
Um dia, passados alguns meses, para surpresa sua e da família ele aparece para conhecê-la. Tinha parentes em sua cidade.
As visitas começaram a ser mais frequentes. Ele queria compromisso sério, namorar , casar. Ela só queria viver. Sequer havia pensado nisso. Aliás, tinha sim, mas a imagem que lhe vinha à mente de se imaginar casada e com filhos tão nova, chegava a ser aterrorizante.
Embora o pai fosse contra, o namoro continuou, as intenções dele sendo reiteradas a cada encontro, em cada insinuação mais intensa, nos beijos, nas carícias mais ousadas. E ela, pensando em como sair desta situação que parecia cada vez mais atrapalhada nas ocasiões que ele vinha em sua cidade. Por carta era mais fácil mostrar suas razões, porque não tinha a réplica imediata.
Trouxe familiar para tornar o compromisso mais efetivo, embora a contragosto dela e como o dito cujo tinha um sobrenome influente, outros parentes dela não se fizeram de rogados e retribuíram a visita. E a teia se formando. Ele a cercava com sua presença, suas carícias cada vez mais insinuantes e os demais mostrando a vantagem de casar com alguém com nome e dinheiro.
Sabia que se dissesse não, poderia encontrar resistência. Já estava cansada da insistência dele em ter um relacionamento mais intenso. Apesar de não haver nada que desabonasse a criatura, a não ser o fato dele também ter mentido o nome, tudo o credenciava. Já estava na faculdade, era carinhoso- até demais para quem não estava a fim de intimidades.
Nas férias que ele veio trouxe um anel de pérola, com a intenção explícita, pela simbologia nele contida de mostrar o quanto estava disposto a dar pela companhia, pelo compromisso ou o que mais desejasse, a ponto de afirmar todo orgulhoso que tinha tão boas intenções que quando casasse, ela nem precisaria trabalhar.
Faculdade para que? Ele lhe daria tudo que desejasse. Não havia necessidade. Mulher dele não trabalharia.
Ela aceitou apenas o anel. Nunca recebera nenhum, nem nos seus 15 anos.
Tinha medo de recusar e ele fazer um drama e a família ficar contra ela.
Tudo que ele lhe oferecia velada ou claramente ela recusava.
Embora não revelasse já tinha tomado uma decisão.
Quando as férias terminaram ele foi embora.
Como começou, ela rompeu a relação.
Uma carta clara e definitiva.
Seus sonhos e sua liberdade não tinham preço.
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