sexta-feira, 7 de março de 2014

MEU TEXTO EM CONTOS DE VERÃO 2014







Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS



O destino de Kelly




Certo dia ao ir a em seu mecânico para consertar a moto, Tadeu deparou-se com um ajudante da oficina que não conhecia. Era novo ali. Parecia meio imaturo no falar e nas atitudes. Enquanto aguardava ficou conversando com o rapaz que lhe confidenciou que precisava de uns trocos para comprar uns “bagulhos”. Foi, então, que Tadeu percebeu que o que observara não era imaturidade, mas alguém agindo sob efeito de alguma substância não legal em todos os sentidos. Mais surpreso ficou quando o jovem ofereceu para ele comprar sua mascote que não tinha condições de cuidar, pois não tinha quem ficasse com ela e não poderia levá-la sempre para o trabalho, conforme lhe advertira o empregador.
Tadeu nem pensou muito, de imediato tratou o valor e levou consigo o animalzinho. Uma cachorra baia, de raça. Em sua família haviam perdido o mascote que tinham. Foi fácil aceitarem a nova companheira, que passou a morar em sua casa. Deram-lhe nome, arrumaram um cantinho para ela que logo se tornou pequeno devido ao seu tamanho avantajado.
Era uma cachorra dócil, amiga, companheira. Convivia pacificamente com a gata que a família de Tadeu já possuía.
Certa vez ela fugiu, Ficaram desesperados, mas logo a encontraram.
Outra ocasião passou meses em uma outra casa onde morava o pai de seus filhotes. Voltou para casa. Mas a estada em outra casa logo se repetiu. Foi fazer companhia para a avó de Tadeu em um bairro distante. Passados alguns meses ela fugiu.
Aí, como já se mostravam desinteressados pela companhia do pobre animal não se interessaram em procurar. Deram-na como desaparecida e fim de história.
Uma pessoa amiga não se conformou com o sumiço da cachorra. Com a permissão dos donos, ou ex-donos, passou a procurá-la. Fez cartazes e colocou nos postes no bairro onde ela estava antes de desaparecer. Colocou avisos e cartazes nos bares. Não demorou muito para um telefonema indicar onde estava a fujona. Lá foi Mariana pegar a companheira, pois como ela frequentava assiduamente a casa de Tadeu, ela tinha além de intimidade profundo carinho pela Kelly (esse é seu nome).
Constatou que era uma senhora sozinha que a tinha encontrado. A princípio assustara-se pelo seu tamanho, mas logo percebeu seu temperamento dócil e amigo. Morava dentro da casa e fazia-lhe companhia. Entregou, não sem pesar para Mariana que também sentiu pena da solidão da senhora. Até pensou em deixar Kelly com ela, mas seu sentimento falou mais alto. Levou-a consigo. Ficou com ela. Era sua companheira também. Circunstâncias a fizeram mudar de sua casa para um apartamento, impossibilitando a permanência de Kelly no local devido às regras do condomínio.
Quando abaixo os olhos e a vejo estendida aos meus pés, questiono o que o destino ainda lhe reservará?

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