Solange e Betina eram primas. Pelo lado paterno. Isso significa, pelo menos neste caso, que ambas se encontravam só na casa dos avós, esporadicamente, em dias de aniversário. Solange vivia com a mãe que trabalhava em um hospital e a avó materna. Não tinha irmãos. Os pais eram separados.
Betina vivia com os pais e irmãos. A mãe não trabalhava fora e estava sempre cuidando dos três. Por ser a mais velha tinha a tarefa de cuidar dos irmãos menores.
O pai era muito rígido. Essa era a imagem que a mãe passava. Nada podia desagradá-lo.
Solange era uma morena linda com pele em tom de mel recém colhido, translúcido, brilhoso. Os olhos de um verde mar capaz de afogar quem neles se jogasse. Talvez por não ter consciência da própria beleza ela se tornasse ainda mais encantadora. Não era daquelas meninas bobas, metidas que se achavam a maioral. Era simples, alegre, comunicativa. Às vezes se encontravam na rua, em outras Solange passava na frente da casa de Betina. Sempre trocavam algumas palavras, por mais rápidas que fossem. A simpatia era mútua.. Mas não andavam juntas. Nem se visitavam.
A diferença de idade devia ser de uns três anos . Solange era mais velha.
Talvez por influência materna foi trabalhar mais cedo e estudar de noite.Mal sabia ela que ali começaria sua desgraça.
Faceira, agora poderia além de custear o estudo ,comprar algumas coisas que toda moça cobiçava para se enfeitar, passear, ir ao cinema, pois as opções não eram muitas não.
Não demorou para Solange chamar a atenção dos rapazes. Se fosse só de rapazes solteiros, descompromissados não teria problema algum. Estariam em pé de igualdade, jovens, inexperientes, sem manhas e sem ardis.
O pior é que Solange chamou a atenção do patrão. Mais velho, casado, com filhos, bem estabelecido, conhecido na cidade.Mas se só ele tivesse ficado enfeitiçado seria menos perigoso.
Ela também provou da poção mágica e ficou enfeitiçada.
Tanto que ele montou um apartamento para ela morar.
A mãe que vivia em situação idêntica na pode cobrar outra atitude.
A família do pai, logo passou a falar que a menina tinha se perdido. Coisa inconcebível. Não falavam às claras. Era tudo em meio tom, meias palavras, à boca pequena para não espalhar o que já era notório, pois isso era pela influência materna. Só podia ser. Coisa ruim sempre é de parte do outro.
Mas Solange apesar de apaixonada era lúcida e sabia que daquela situação não poderia esperar um desfecho satisfatório. Ou, percebeu que o amor não passara de um arrebatamento de jovem e que não era coisa para vida toda, afinal estava só começando a descobrir o mundo, as sensações. Refletiu. Era só explicar que tudo estava acabado, ele continuaria sua vida com sua família e ela seguiria a dela.
Iria estudar e trabalhar em outro local. Não se veriam mais e pronto. Tudo ficaria solucionado.
Iria dizer isso para ele na manhã seguinte. Iria embora e seria o fim de tudo.
E foi o fim, quando a vizinhança escutou os sucessivos estampidos dos tiros.
Solange ficou ali.
Betina jamais esqueceu a prima.
Publicado na coluna do Centro Literário Pelotense no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data:2011.10.23 Sob o pseudônimo de YZA. página 14
Publicado no Livro:Contos de Grandes Autores Brasileiros-Edição 2011
Seletiva em Setembro 2011-Edição a ser lançada em Novembro 2011-CBJE
Antologia on line da CBJE-
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