domingo, 7 de abril de 2013

Meu texto em Histórias, Causos e Lorotas que só o brasileiro sabe contar...



  

Isabel Cristina Silva Vargas
         Pelotas / RS







A mulher de branco


Em uma cidade bicentenária, famosa por suas casas antigas, seus palacetes, há muitas histórias de tempos de outrora a serem contadas. Estas edificações existem até hoje, ao redor da praça central, próximo à igreja matriz, na zona do porto, onde a cidade se desenvolveu, na zona das charqueadas, próximo ao arroio.
Os primórdios da cidade coincidem com a época da escravatura. A riqueza da cidade provinha das charqueadas. Maior atividade econômica da região.
Muitas histórias são contadas desde aquela época, quando a indústria do charque foi erguida com base no trabalho escravo. Muitos morreram pelas agruras daquela vida. Para os escravos, de extremo sofrimento, pois vinham de regiões quentes para outra extremamente gelada. Trabalhavam descalços, pisando em um solo encharcado de sangue dos animais abatidos e do sal utilizado para salgar a carne a ser comercializada. Contam que muitos criavam feridas incuráveis e que chegavam a perder pedaços dos pés, sem poder caminhar, isto quando não morriam de infecção. Melhorou a situação quando começaram a usar tamancos, bem mais tarde, por concessão de senhores mais benevolentes.
Muitas histórias o tempo propagou sobre estas almas sofridas. Uma delas é aquela a respeito da mulher de branco que assusta as meninas.
Em um palacete bem central, um prédio de três andares datado de 1800, aproximadamente, conta-se que em dias de festa de gala, quando as meninas estão preparando-se para serem apresentadas à sociedade , esperando em fila para adentrarem ao salão de baile, aparece, lentamente, uma mulher de branco que se junta a elas para participar do baile, para pavor das meninas que disparam e gritam descontroladas.
Há gerações, conta-se esta história da mulher de branco. Dizem que aquele que se atrever a subir ao terceiro andar, em dias comuns, sem ser de festa, a encontrará vagando lentamente fazendo esvoaçarem as saias de seu vestido branco e que se as janelas estiverem abertas será possível enxergá-la da rua a rodopiar em um incessante bailado.



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