terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Presente Guardado

             Uma das datas mais lindas e que amávamos comemorar era o Natal. Se levarmos em conta o aspecto de comemoração, troca de presentes, isto é, o aspecto comercial, as recordações de infância e adolescência não eram das mais satisfatórias.
            Após meu casamento e o nascimento de meus filhos, tudo era maravilhoso. Tivemos Natais nos quais íamos à missa à noite, dia 24, outros que íamos de dia, no dia 25 e também os que não fomos por um motivo ou outro. Fazíamos a ceia em família, às vezes em minha casa, outras na casa de minha Irma. Minha tia fazia questão de começar a oração.
            A troca de presentes era uma alegria à parte, pela algazarra geral. Troca entre adultos, crianças, compensando todas as carências da infância. Confesso que havia até certo exagero.
            O tempo passou, os filhos cresceram e o centro das atenções no Natal passou a ser a neta.
            Chegou à época, entretanto, que comecei a me dar conta da fuga do verdadeiro espírito natalino. Então, resolvi fazer uma experiência. Nada de presentes para os adultos. Só as crianças ganhariam. Uma pessoa ao ouvir minha decisão, dissuadiu-me do intento, dizendo que não iria me sentir bem.
            Deveria ter ouvido minha intuição e seguir firme no propósito, mas não. No dia seguinte saí apressada para comprar os presentes. Infeliz decisão.
            Meu coração tentava me dizer que não haveria oportunidade de trocar presentes naquele ano. Não soube escutá-lo. Era o ano de 2007. Próximo a meia noite minha mãe querida, minha companheira,, minha grande incentivadora encerrava sua jornada terrena na qual ela só espalhou amor, alegria, cuidados infindáveis com os filhos e netos e cultivou uma gama de amigos.
             Ano seguinte permanecemos juntos, mesmo com a tristeza pela sua partida. Vivera uma extensa trajetória de vida, amor e dedicação. Tínhamos muito a recordar.
            Pensei que não teria mais Natal tão triste quanto aqueles, até que em 2010 meu mundo ruiu com a perda trágica de meu menino. Achei que não conseguiria sequer sobreviver.
            Amanhecia o dia 24 quando acordei. Acreditem ou não, vi meu filho à porta de meu quarto avisando que não viria à noite, pois teria que voltar. Só consegui dizer, em sonho ou pensamento “está bem, meu filho”.
            Não fizemos nada na data. Só permanecemos juntos. Próximo à meia noite, minhas lágrimas caíam em profusão sobre a toalha que pintava com uma árvore de Natal, um presente, uma estrela brilhante e os dizeres “Feliz Natal”. Foi o presente mais dolorido que fiz em toda minha vida.
              Guardo-o comigo.

Publicado no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data:2011.12.27-Página 04 


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