Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
Episódio da infância
Era meu aniversário de sete anos. Não haveria festa. Era dia de semana. Minha mãe fez um bolo para o café da tarde para o qual viriam minhas tias.
Ela mandara fazer um vestido novo. Era de tafetá rosa, mangas curtas-era verão- com tomas na parte do corpo e a saia franzida, o que o deixava bem rodado. Estava muito contente e me sentia bonita com o vestido.
Naquela época era possível e não perigoso deixar as crianças ficarem à porta da casa, sentada nos degraus, com a porta aberta, pois a violência não era comum. Cidade pequena e pacata. Era uma rua estreita, bem no centro da cidade, todos os vizinhos conhecidos.
Ansiosa para receber os convidados, as tias que iriam para o café, ia até a esquina e voltava. A casa era no meio da quadra. Eis que em uma das vezes que ia até a esquina no sentido oeste, vinha do sentido contrário, pela calçada, um jovem de bicicleta, em velocidade acentuada, de modo que não pode frear e me atropelou. Lá fiquei atirada na calçada, toda arranhada nos joelhos, nos braços e no nariz. E meu vestido além de sujo, com pingos de sangue.
Quem me socorreu foi um senhor, que morava em frente de minha casa. Pegou-me no colo e me levou para casa, para grande susto de minha mãe e meus irmãos. pois custei a parar de chorar.
Sobrevivi ao trauma do atropelamento que, na realidade, não passou de um susto. Talvez o trauma maior fosse por ser dia de meu aniversário e estar me sentindo bonita no vestido novo, o que não era comum.
O que eu julgo interessante é que anos mais tarde, ao ingressar no serviço público, mediante concurso, vinte anos mais tarde, aquele que me socorreu na ocasião trabalhava no mesmo local e lembrava-se de mim.
Trabalhamos no mesmo local muitos anos, até ele aposentar-se e ...morrer por depressão.
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